A Dramaturgia Contemporânea no Club Noir

Uma imagem pode dizer mais do que mil palavras. E quando uma imagem se desdobra em mil outras, os significados são potencializados ao infinito.

3 telas em Branco e 3 pinceladas nas cores primárias. Cada qual contando uma história. Um assassinato, uma obra de arte, o fim de um relacionamento. E a medida que as cores se misturam, dando origem a novas cores, outras histórias vão surgindo.


Os personagens desenhados pela autora Patricia Kami na peça (Em) Branco narram situações corriqueiras, banais, mas que não podem absolutamente passar... em branco. E o diretor Roberto Alvim inspira-se nas pinturas de Roy Lichtenstein para compor esse espetáculo - segundo de uma série de uma série de 8 - dentro da Mostra Brasileira de Dramaturgia Contemporânea da Cia. Club Noir.
No primeiro espetáculo da Mostra, o brilhante Hieronymus Nas Masmorras de Luiz Felipe Leprevost, a referência era Bosch. Assim como nas obras do pintor holandês, Hieronymus trazia figuras complexas e caricaturais habitando um mundo surreal, onde a violência e deformação de valores davam origem a outros seres.


As artes plásticas sempre são uma presença forte nos trabalhos de Alvim. Suprimindo o movimento e baseando seus espetáculos a algumas – ou apenas uma - cenas de impacto, ele nos apresenta o teatro de uma outra/nova maneira. Como diante de um quadro, somos convidados à entrar na obra para senti-la, vivenciá-la. Co-habitá-la.
Isso fica muito evidente no espetáculo (Em) Branco. Os 3 atores ficam em cena por 30 minutos sem mexer um músculo que não os da face. Todo o movimento da peça vem da nossa percepção. Como diante de uma obra de arte óptica, na medida em que nossos olhos seguem o texto de um personagem para outro, o movimento surge como uma ilusão.
Há que se destacar também o trabalho dos atores da Cia Club Noir nessa Mostra Brasileira de Dramaturgia Contemporânea. Se em Hieronymus Nas Masmorras tivemos todo o talento e experiência dos mais antigos membros da companhia (Juliana Galdino, Ricardo Grasson e José Renato Forner), no espetáculo (Em) Branco o trabalho de Frann Ferraretto, Fernando Gimenez e José Geraldo Junior se destaca pelo grau de dificuldade - quase torturante – de passar meia hora sem se mexer e com dois focos de luz a poucos centímetros de seus olhos.

A Mostra Brasileira de Dramaturgia Contemporânea da Cia. Club Noir coloca em cena textos de 8 jovens dramaturgos, todos propondo novos olhares para a literatura e para o teatro. Cada espetáculo fica 1 mês em cartaz, sempre de terça a quinta-feira às 21 horas, com entrada gratuita.

Fotos: Julieta Bachin

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