Drogas: A Hipocrisia ou a Legalização


Dia desses, após um daqueles almoços dominicais que reunem toda a família, provoquei um tumulto ao dizer que já fumei maconha. Quem diria que aos 50 anos, com todo um histórico de rebeldia e uma atitude sempre contrária aos modelos impostos pelo meio, eu ainda poderia escandalizar alguém com uma declaração tão banal?
Entre silêncios constrangidos, olhares de espanto e manifestações indignadas, quase usei a saída ridícula de Bill Clinton dizendo "fumei mas não traguei". Mas para quê mentir? E então, relembrando meus tempos de ovelha negra, fiquei apenas rindo e curtindo o incêndio no circo.
Confesso que a reação deminha família me causou um certo espanto. Acho mesmo que fiquei decepcionado. É óbvio que uma pessoa como eu, que viveu tudo o que eu vivi, já expeimentou pelo menos um tipo de droga. Eu não apenas experimentei, usei por muito tempo e, claro, não foi só maconha.
Mas a hipocrisia não é uma carcterística exclusiva da minha família. A sociedade como um todo tem a hipocrisia como cultura e prefere fingir que não sabe e os próprios usuários não assumem que o são. Assim todos fazem de conta que não há um problema, que não é um problema.
Para mim nunca foi exatamente um problema pois sou, acho, uma daquelas pessoas imunes ao vício ou, justamente por me recusar a fazer as coisas iguais a todo mundo, nunca me permiti cair de cabeça no consumo de drogas. E menos ainda me permiti gastar um tostão que fosse comprando um beck ou qualquer outra coisa. Nunca precisei. Nos meios em que convivia sempre houveram amigos ricos e/ou generosos.
Também nunca coloquei meus pés em uma biqueira ou favela para comprar. E talvez seja esse o segredo da minha "imunidade". Penso que a adrenalina gerada pela "busca" do produto muitas vezes é igual ou superior ao "prazer" gerado pelo consumo. Aquela sensaçãozinha deliciosa de estar fazendo algo errado... Sem contar que a exposição à outras drogas é maior quando se passa a frequentar o sub-mundo, a ter contato direto com traficantes.
Por isso sou totalmente favorável à legalização da maconha. É óbvio que a grande maioria dos usuários darão preferência por comprar seu beckzinho em um lugar legalizado, confiando na qualidade e procedência do "bagulho", talvez com preço tabelado e sem correr o risco de ir parar na cadeia. O cigarro e o álcool são assim (embora eu ache o álcool um problema social muito maior que a canabis) e nenhum fumante ou apreciador do álcool precisa se expor ao submundo e, embora exista, o tráfico de cigarros e bebidas não interessa aos que comandam o mundo do crime.
Também é necessário desmistificar as drogas, tanto do glamour quanto de seu lado exageradamente negro. A desinformação cria mentiras e as mentiras geram curiosos. Não adianta dizer a seu filho que todos os usuários de drogas acabam na cracolândia ou na bandidagem. Ele sabe que não é verdade. A maioria dos usuários de regulares de drogas que eu conheço (e não são poucos), são profissionais competentes, alguns muito bem sucedidos, casados, exemplares pais de família, etc e tal.
As chances de desinteresse pelas drogas, experimentando ou não, aumentam quando diminui a hipocrisia sobre o assunto. Ingenuidade dos pais, a exemplo da minha família, achar que seus filhos não experimentarão alguma droga em algum momento. Elas estão sempre à mão, como sempre estiveram, nas festinhas, nas casas de amigos, nas baladas e nas escolas. E, acredite, as biqueiras não estão só nas favelas. Existe uma bem perto de você.

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